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01
jul
2010

São Paulo joga dinheiro no lixo por rixa política

E inclusão social também. No meio deste mês, o Estadão fez uma matéria muito da bem-feita sobre a questão da reciclagem aqui em São Paulo. A ineficiência da nossa Prefeitura na coleta seletiva manda para os aterros sanitários – pra lá de lotados – uma montanha de dinheiro. Perdemos, todos, mais de R$ 749 milhões de reais com esta comida de bola. Os custos são resultado do consumo de matéria-prima fresca pela indústria, danos ambientais e gastos para a destinação de lixo em aterros.

Isso é resultado de rixa política, que fique muito claro. Quem implantou a coleta seletiva em São Paulo foi outro partido. A idéia original: a população separa o lixo e o leva para os contêineres. São pouco mais de cinco mil espalhados em condomínios, praças e prédios, além das rotas de coleta seletiva cobertas por duas empresas. Todo este material deve ser levado para as centrais de triagem espalhadas pela cidade. Aqui começa a rixa: o plano original imaginou 31 centrais. Deixaram 14 prontas. E nos últimos seis anos foram criadas apenas mais DUAS, quando deveriam estar todas prontas.

A falta das centrais faz com que as concessionárias não coletem todo o lixo separado pelos cidadãos – que termina nos aterros. Dinheiro no lixo? É bem pior que isso. Além das 3,1 mil toneladas de material reciclável, a não criação das centrais de triagem impede inclusão social. Sim, porque as centrais são gerenciadas por cooperativas de catadores, quase integralmente formadas por ex-moradores de rua. Enquanto isso, a mesma administração implanta uma política higienista nas ruas de São Paulo. A última novidade desta galera? Agora as entidades filantrópicas já não podem mais oferecer alimentos a estes moradores de rua.

Ainda não ficou com raiva? Eu te ajudo. Os aterros sanitários de São Paulo estão esgotados. Um novo aterro, para receber 2 mil toneladas/dia, custa R$ 528,5 milhões. A gente produz 13 mil toneladas/dia na cidade (diminuiu, ta?) ou seja: um novo aterro custa cerca de R$ 3 bilhões para os nossos queridos bolsos. A coleta custa mais R$ 80/tonelada. Gaste-se mais R$ 1 milhão/dia – R$ 31 milhões/mês! Sem contar o que estamos desperdiçando ou os custos de operação e manutenção de um aterro.

Com uma mudança no sistema – caminhões com separação para lixo orgânico e reciclável e centrais de triagem que tivessem capacidade técnica de produzir compostagem e adicionar valor ao que pode ser reciclado – seria possível, queridos, eliminar 80% do lixo destinado aos aterros. E o ideal é fazer isso em vários pontos, para evitar viagem, como acontece hoje, estendendo o modelo progressivamente até atingir todo o lixo que a gente produz. Melhor: deste jeito, se produz trabalho e renda, além de diminuir os custos.

Se vocês acham que isso é miragem, saibam: a revolução já começou em Barcelona, Nova York e Estocolmo. Detalhe: em Barcelona e Estocolmo, os caminhões de lixo estão em fase de extinção. O lixo é colocado pelos cidadãos em lixeiras conectadas a uma rede subterrânea de tubos, a cinco metros de profundidade. O sistema suga o material a vácuo, dia e noite, a cada hora e o manda para uma central de seleção fora da cidade. Lixo orgânico vira energia, reciclável vai para onde deve. Em cinco anos, a cidade espanhola vai acabar com a coleta por caminhões.

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ecologia, Rede Ecoblogs

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